O discernimento ao
chamado de Deus deve ser uma prioridade na vida de todos os cristãos, Ele nos
chama e devemos responder a esse chamado dentro do propósito preparado para
nossa vida, nesse sentido o presente artigo busca uma reflexão a partir do
livro do Genesis resgatando o sentido do chamado a vida por meio da criação,
mostrando a importância daqueles que transmitem e professam os valores do
reino, apresentando Deus que cria todas as coisas e o ser humano como
corresponsáveis pelo cuidado da criação. A figura de Abraão aparece como
fundamental referência para aqueles que se lançam a responder o chamado de
Deus. Com a Pessoa de Jesus Cristo narrado pelos Evangelhos, o chamado de Deus
é atualizado, o próprio Deus chama na pessoa de seu Filho. E por fim toma como
iluminação o terceiro Ano Vocacional do Brasil 2023, trazendo a importância de
um entender o chamado para melhor responder como aqueles que por ter seus
corações ardentes pelo encontro com o Ressuscitado colocam seus pés a caminho
respondendo ao seu chamado.
Deus que cria todas as coisas, por amar chama a vida
Durante toda a história
da humanidade podemos notar que Deus sempre está em diálogo com a humanidade,
voltemos nossos olhares para o livro do Gênesis e veremos que Deus conversa com
sua criação. Primeiro Ele “criou o céu, a terra, a luz, a água, as árvores
frutíferas, as aves, os animais domésticos e répteis.” [1]E Deus cria o homem e fez sua imagem e
semelhança, o criou homem e mulher e os abençoou.
[1] Genesis 1,1;3;4;9;11;21;24;25.
Bíblia do Peregrino.
E Deus disse: Façamos o homem a nossa imagem e semelhança; que eles dominem os peixes do mar, as árvores do céu, os animais domésticos e todos os répteis. E Deus criou o homem a sua imagem; à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou.
Deus os abençoou e Deus lhe disse: – Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a; dominai os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem sobre a terra.[2]
[2] Genesis 1,26-28. Bíblia do Peregrino.
Depois de criar o
homem, Deus confia a ele o cuidado com a criação, demonstra que também cuida do
homem e da mulher que fazem parte de sua criação e são corresponsáveis pelo
cuidado humano de sua grande obra, e a assim faz um parque de árvores boas para
o sustento e para a beleza dos olhos, além da árvore da vida e a de conhecer o
bem e o mal.
Então o Senhor Deus modelou o homem da argila do solo, soprou alento de vida em seu nariz, e o homem se transformou em ser vivo.
O Senhor Deus plantou um parque em Éden, no Oriente, e nele colocou o homem que havia modelado.
O Senhor Deus fez brotar do solo todo tipo de árvore formosa de ver e boas de comer; além disso, a árvore da vida no meio do parque, e a árvore de conhecer o bem e o mal.[3]
[3] Genesis 2, 7-9. Bíblia do Peregrino.
Deus com o chamado a
vida, por criar o homem, lhe dá por companheira a mulher que a cria do próprio
homem. Da costela do homem o “Senhor Deus formou uma mulher e apresentou ao
homem. O homem exclamou: – Esta sim, é osso de meus de ossos e carne de minha
carne! Seu nome será mulher porque a tiraram do homem.”[4]Com isso podemos compreender que Deus
tem amor por sua criação, por todos os seres vivos as águas as árvores, a luz e
principalmente pelo o homem e a mulher que Ele designou o cuidado com toda a
criação, no entanto por meio do pecado o homem e a mulher perdem o direito de
vida no conforto do paraíso e Deus lança a eles o sofrimento.
[4] Genesis 2,22-23. Bíblia do
Peregrino.
Existe uma
interpretação de um monge grego[5] que ressalta que Deus cria o
homem, e o homem a enxerga e conversa com Ele, mas pelo pecado o homem fica
cego e não o enxerga mais. Mas Deus não suporta a cegueira do homem porque o
ama, e por isso manda seu Filho para que por meio d’Ele a humanidade volte a
enxerga-lo. Uma bonita interpretação da narrativa do Gênesis. E assim
compreendemos que Deus nos ama, ama a humanidade e o seu desejo é de nos ter
próximo, junto a Ele, por isso sempre nos chama, e pode-se considerar o
primeiro chamado de Deus, o chamado a vida.
[5] Simeão, o Novo Teólogo (C. 949-1022), monge grego – Hino 83.
A vida é uma grande
graça e dom de Deus para cada ser humano, Deus em seu infinito amor nos concede
essa dádiva, nos chama a vida, deseja que por meio dela sejamos seus filhos e
filhas, que sigamos os seus caminhos. Como nascemos crianças frágeis e
inocentes precisamos do auxílio de pessoas que nos proteja, que nos guie e nos
ensine os valores do Reino de Deus, isso é tarefa para os nossos pais
biológicos, os que nos transmitiram a vida, dom de Deus, agora nos transmitem a
fé e os valores cristãos por eles professados. Com o passar dos anos vamos
crescendo nos tornamos adolescentes, jovens e depois pessoas adultas, pode-se
dizer pessoas autônomas, e nesse crescer e amadurecer da vida, Deus nos chama a
um caminho de vida, um novo chamado a um modo de viver a grande dádiva que é a
vida, e nisto cabe a cada ser humano responder conforme o chamado recebido de
Deus.
O chamado de Deus a Abraão e sua resposta de fé
O chamado de Deus é
sempre um desafio humanamente falando, mas a graça por trás do seu chamado é
que transcende a compreensão humana, aproxima d’Ele aquele que o segue
atendendo ao seu chamado. Olhemos para Abrão, Deus o chama; “Sai da tua terra
natal, da casa do teu pai, para terra que te mostrarei. Farei de ti um grande
povo, te abençoarei, tornarei famoso teu nome, que servirá de benção.”[6] Deus por meio do seu chamado tem um propósito
para vida de Abrão, e esse propósito implica na sua manifestação e presença no
meio da humanidade, por meio da descendência de Abraão o nome de Deus se
tornará conhecido assim como o seu poder e seu amor, não somente o nome de
Abraão se tornaria famoso como disse Deus, mas as suas próprias obras
dispensadas no meio do seu povo. O chamado de Deus nos desafia a responder com
a confiança de quem acredita naquele que nos chamou. Abrão confia, não sabia
para que terra estava indo, os obstáculos que poderia encontrar no caminho, mas
por fé, por confiar em Deus que o chama se lança a caminho. Se olharmos nas
Sagradas Escrituras, seus desafios foram muitos, enfrentando tempos de
carestias, tendo que descer ao Egito e sobreviver a perseguição do Faraó.
Depois ganhando grandes posses junto com seu irmão Ló, tiveram que se separar
evitando assim brigas entre eles que eram irmãos e seus pastores, até o dia em
que o Senhor firma com ele sua aliança.
[6] Genesis 12,1-2. Bíblia do
Peregrino.
Eu sou o Deus todo poderoso. Anda de acordo comigo e ser honrado, e farei uma aliança contigo: farei que te multipliques sem medida.
Abrão caiu com o rosto por terra, e Deus assim lhe falou:
– Olha, esta é a minha aliança contigo: serás pai de uma multidão de povos. Já não te chamarás Abrão, mas Abraão, porque te faço pai de uma multidão de povos. Vou te fazer imensamente fecundo, fazendo surgir povos de ti, e reis de ti nascerão. Conservarei minha aliança contigo e com tua descendência nas gerações futuras, como aliança perpétua. Serei teu Deus e de teus futuros descendentes.[7]
[7] Genesis 17,1-7. Bíblia do Peregrino.
E refletindo sobre o
chamado vocacional de Abraão, podemos nos sentir fortalecidos em nossas
respostas ao chamado de Deus, e compreender um pouco mais o itinerário de Deus
ao logo da história que sempre por meio de alianças quer manter a humanidade
junto d’Ele, é assim até a “Nova Aliança,”[8] com
o seu próprio Filho encarnado no meio da humanidade. Ele nos chama na sutileza
de nossos corações, por nossas limitações as vezes não compreendemos, em
determinados momentos os ruídos ao nosso redor não facilitam esta escuta e
compreensão do chamado, precisamos da intimidade com Ele por meio da oração e
do silencio, para assim escutar e entender para onde Ele nos chama, e assim
sendo teremos clareza e buscaremos na fonte misericordiosa de Cristo a força
para seguir o seu chamado.
[8] Lucas 22,20. Bíblia do Peregrino.
O novo chamado, Jesus Cristo o Filho de Deus nos chama
São muitos os
exemplos encontrados nas Sagradas Escrituras aonde Deus chama ao serviço do seu
reino, aqui olhamos na pessoa de Jesus Cristo no Novo Testamento. São chamados
feito pessoalmente pelo próprio Deus na pessoa de seu Filho. Quando “subiu a
montanha, foi chamando os que quis, e foram com ele. Nomeou doze a quem chamou
de apóstolos. Para que convivesse com ele e para enviá-los a pregar com poder
para expulsar demônios.”[9] Os chamados foram direcionados a
homens comuns, pessoas de uma vida cotidiana cheia de desafios, em volto as
complexidades de seu tempo, aos quais Ele orienta que a graça por traz do
chamado não isenta dos desafios, por isso em determinado momento diz aos seus
seguidores: “Quem quiser seguir-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz a cada
dia e venha comigo. Quem se empenha a salvar a vida, a perderá; quem perder a
vida por mim, a salvará.”[10] Como podemos ver, desde o chamado
de Deus a Abraão até os feitos por Jesus, a uma renúncia para esse seguimento,
tendo em vista a graça imensurável por trás destes chamados. Por isso a
importância do escutar com sabedoria, saber que sendo incompreensível
humanamente falando, vale apena seguir o chamado, seja qual for a nossa
vocação, bem como as vocações específicas, laical (solteiro/a), matrimonial,
religiosa/o ou ao ministério ordenado (diáconos, padres, e bispos).
[9] Marcos 3,13-15. Bíblia do
Peregrino. [10] Lucas 9,23-24. Bíblia do Peregrino.
O terceiro Ano Vocacional do Brasil (2023), sua importância para os nossos dias
Neste ano estamos
celebrando o terceiro ano vocacional do Brasil (2023), relembrando os anos
anteriores que foram o primeiro ano vocacional em 1983, com o tema “vem e
segue-me” (Mt 19,21; Mc 10,21; Lc 18,22), o segundo em 2003, com o tema
“Batismo fonte de todas as vocações” e o lema “Avancem para as águas mais
profundas,” (Lc 5,4) e o terceiro e atual agora em 2023, com o tema “Vocação:
Graça e Missão” e o lema “Corações ardentes, pés a caminho” (Cf. Lc 24,32-33).
O primeiro ano
vocacional em 1983, “vem
e segue-me”, objetivou-se a
ampliação do reconhecimento de que a responsabilidade pela animação, cultivo e
formação das vocações é de toda a comunidade cristã, uma comunidade missionária
iluminada pelas palavras de Jesus que diz: “Vem e segue-me”, desperta e cultiva
a animação vocacional. O segundo em 2003, “Batismo fonte de todas as vocações, “Avancem para as águas mais profundas,” teve o intuito de promover um
novo despertar vocacional, conscientizando que a vocação é missão batismal, “na
comunidade eclesial e na sociedade.”[11] O terceiro e atual em 2023, “Vocação: graça e missão” “Corações ardentes pés a caminho,” quer “Promover a cultura
vocacional nas comunidades eclesiais, nas famílias e na sociedade, para que
sejam ambientes favoráveis ao despertar de todas as vocações, como graça e
missão, a serviço do Reino de Deus.”[12] Traz ainda para nossa reflexão o tema
com base no texto de (Mc 3,13-19), “Jesus chamou e enviou os que ele mesmo
quis,”[13] apontando para a vocação como
dom, graça e aliança, chamando a respondermos com liberdade esse dom precioso
da vocação. Com o lema “corações ardentes pés a caminho” nos recorda o episódio
dos discípulos de Emaús, “os corações que ardem ao escutar a Palavra do
Ressuscitado e os pés que se colocam a caminho para anunciar o encontro com o
Cristo.”[14]
[11] Síntese do texto base do 3º Ano Vocacional do Brasil, CDN.ARQIMOC.COM. [12] 3º Ano Vocacional do Brasil – Vocação Graça e Missão – Texto Base. Brasília: Edições CNBB, 2022. [13]Síntese do texto base do 3º ano vocacional do Brasil, CDN.ARQIMOC.COM. [14]Síntese do Texto Base do 3º ano vocacional do Brasil, CDN.ARQIMOC.COM
Depois de fazermos um
resgate da história vocacional com o grande dom do chamado a vida, trazendo a
figura importante de Abraão como aquele que responde o chamado confiante,
atualizando o chamado de Deus com Jesus Cristo que é o próprio Deus que chama
pessoalmente os apóstolos, chegamos aos tempos atuais, iluminados pelo ano
vocacional 2023 que nos ilumina com este tema “Vocação: Graça e Missão” e o lema “Corações ardentes pés a caminho,” aonde podemos refletir um pouco
mais sobre o chamado de Deus em nossas vidas e como estamos respondendo a nossa
vocação. Voltemos nossos olhares para os discípulos de Emaús, os seus corações
ardem, eles colocam os seus pés a caminho para anunciar o Cristo, mas pode-se
perceber que entre os corações ardentes e os pés a caminho existe um “sentar-se
à mesa, o pão partido, a partilha, a comunhão, um gesto fundamental que faz os
olhos se abrirem.”[15] Hoje em nossas realidades o que nos faz
arder os nossos corações? Diante de quais realidades colocamos nossos pés a
caminho para anunciar o Cristo? São questionamentos que podem nos ajudar a
refletir e responder ao chamado de Deus em nossas vidas. Se olharmos o texto
nos versículos anteriores aos versículos iluminadores do lema, veremos que até
os discípulos compreenderem que se tratava de Jesus Ressuscitado, teve um longo
caminhar, o Mestre recorda as Sagrada Escrituras, “E começando por Moises e
continuando por todos os profetas, explicou-lhes o que se referia a ele em toda
a Escritura.”[16] Jesus é paciente mesmo quando o discípulo entende
que Ele é displicente, quando dizem: “tu és o único forasteiro em Jerusalém que
desconhece o que aconteceu aí nesses dias?” (Lc 24,18).
[15] 3º Ano Vocacional do
Brasil – Vocação Graça e Missão – Texto Base. Brasília: Edições CNBB,
2022 [16] Lucas 24,27. Bíblia o Peregrino.
Pode-se perceber que
por estarem desolados os discípulos não conseguiam perceber que era Jesus, foi
preciso um caminhar juntos, um diálogo, até o sentar-se à mesa e o partir do
pão para que eles reconhecesse o Mestre. Em nossos dias são tantas as
complexidades, os desafios que enfrentamos que em alguns momentos podemos não
compreender a presença do Ressuscitado, por isso precisamos estar atentos para
perceber a presença d’Ele ao arder os nossos corações, e enfim colocarmos nossos
pés a caminho respondendo o chamado de Jesus que vai nos pedir que voltemos a
galileia e anunciemos que Ele, o Cristo está vivo, que nada estar perdido, mas
pelo contrário, estamos salvos com a sua ressurreição, a grande promessa do Pai
se cumpre. Fervorosos pelo encontro com a Palavra, com o Cristo Ressuscitado,
no partir do pão, que se faz para nós Graça e Missão no chamado que recebemos,
a importância de respondermos como cristãos missionários da Boa Nova a todos os
que necessitam fazer a experiência do encontro com o Cristo. A nossa resposta
sincera e o nosso testemunho de vida é que vai apontar para este encontro com o
Ressuscitado.
Considerações finais
O presente artigo fez
uma reflexão sobre a importância do discernimento vocacional, para isso resgata
na narrativa do Genesis a grandeza do chamado a vida, o primeiro chamado de
Deus, sua importância e a necessidade do cultivo da fé por meio dos que ajudam
na transmissão e profissão dos valores do reino. Apresentando o figura de
Abraão como uma grande referência de quem acredita e confia no chamado de Deus.
Na pessoa de Jesus Cristo que nos chama, narrado pelos Evangelhos no Novo
Testamento, atualiza para nós que Deus continua nos chamando para sua messe. E
por fim toma como iluminação o Ano Vocacional do Brasil 2023, a sua importância
na contribuição para uma resposta sólida e concreta da nossa vocação. Todo esse
percurso feito pelo presente artigo teve o intuito de levar a uma reflexão
sobre o discernimento do chamado de Deus em nossas vidas, fazer que
compreendamos que Ele nos chama, e que precisamos entender para onde e assim
nos colocarmos com disposição para responder ao seu chamado.
Autoria do texto: Sebastião Caldas
REFERÊNCIAS:
Bíblia do Peregrino.
3º Ano Vocacional do Brasil – Vocação
Graça e Missão – Texto Base. Brasília: Edições CNBB, 2022.
Síntese do texto base do 3º Ano Vocacional do Brasil. CDN.ARQIMOC.COM, disponível em: <https://cdn.arquimoc.com/wp-content/uploads/2022/11/SAV-S%C3%ADntese-do-Texto-Base-do-3%C2%BA-Ano-Vocacional-do-Brasil.pdf>Acesso em: 20 de ago. de 2023.
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