Foi com o tema central, “na
escola de São Francisco, aprendamos gratidão” que a Paróquia Imaculada
Conceição em Anori, diocese de Coari – AM, nos dias de 25 de setembro a 04 de
outubro de 2023, celebrou a festa da comunidade São Francisco. Pe. Raimundo
Carvalho Gordiano, Pároco, junto com as coordenações pensaram trabalhar sobre o
significado do Presépio, que neste ano de 2023, estará completando 800 anos de
sua criação por São Francisco de Assis em “Greccio, uma pequena cidade
italiana com pouco mais de 1.500 habitantes, fica na região do Lazio, na
província de Rieti, e a cerca de 60 Km de Roma.”[1] Com
base na carta Apostólica (Admirabile Signum) “Admirável Sinal”[Ler a carta na íntegra] que fala do significado e importância do
Presépio. Deste modo Pe. Gordiano foi trabalhando a cada noite um subtema
relacionado ao presépio com intuito de levar os fiéis a aprender “na
escola de São Francisco ” o significado e o valor do presépio, e
como isto pode interferir de maneira positiva na vida de cada fiel devoto de
São Francisco.
[1] Papa
lança Carta Apostólica “Admirabile Signum” sobre origem e sentido do
presépio Diocese porto Nacional
Na primeira noite que
teve como iluminação o subtema, “O Evangelho vivo e imaginação criativa.”
Padre Gordiano ressaltava que a comunidade e a paróquia estavam em festa e em
comunhão com a Igreja no mundo inteiro celebrando “os 800 anos de contemplação
desde que São Francisco iniciou a prática de construir o presépio, dando
visibilidade ao evento da natividade de Jesus, como `Num evangelho
vivo, por meio de uma imaginação criativa`. Até hoje
por todo o mundo a confecção do presépio nos faz lembrar o lugar humilde onde
Jesus nasceu e as primeiras personagens que tiveram a alegria de encontrar-se
com o menino Deus. Este evento nos deixa muitas lições. Algumas dessas
vamos compartilhar convosco nestas noites de celebração.”[2]
[2]Pe.
Raimundo Carvalho Gordiano, em sua homilia no dia 25 de novembro de 2023,
festejo de São Francisco de Assis. Anori, diocese de Coari -AM
Ressaltava ainda que as
nossas culturas tradicionais como “as culturas dos povos indígenas, nossa
cultura cabocla e dos povos da bíblia em geral são marcadas por práticas
contemplativas. A forma de comunicação envolve bem mais que apenas a capacidade
racional. Estes povos assimilam e transmitem informações e conhecimentos
utilizando-se de imagens, sons, figuras, que ajudam a fazer a experiência do
envolvimento com o conteúdo anunciado. Por isso Jesus utiliza-se de muitas
parábolas, com narrações de fatos e inserção de figuras.”[3]
[3] Ibidem
Padre Gordiano refletia
ainda que a sensibilidade de São Francisco o tocou e motivou a construir o
presépio, para “que as pessoas pudessem ver com os olhos da face, o que a
imaginação inspirava ao ouvir a narrativa do nascimento de Jesus. Essa obra foi
realizada pela primeira vez com personagens vivas, pessoas que se vestiram com
adornos e enfeites inspirados nas figuras da bíblia e se revestiram do espírito
do natal.”[4]
[4] Ibidem
Concluindo ele destaca
que: “quanto a experiência do mistério – o mistério do amor de Deus não é algo
a ser assimilado apenas por uma parte da gente. O Antigo Testamento fala em
‘escutar’. Jesus utiliza figuras, imagens em suas parábolas, como a luz, o
candeeiro, o sal da terra… São Francisco constrói o presépio com a mesma
motivação. Mais do que em outras épocas, precisamos ouvir, ver, sentir,
fazer, falar… nos envolver nesse mistério. Assim teremos melhores condições de
nos tornarmos Evangelho vivo na vida de outras pessoas.”[5]
[5] Ibidem
Na segunda noite com
o subtema iluminador, “Presépio – Mosaico popular.” Padre Gordiano
retoma a noite anterior relembrando das figuras expressas como símbolos que
ajudaram as culturas e ajudam ainda hoje na compreensão dos mistérios de Deus.
Assim expressa: “Ontem vimos a importância impressa ao visual em nossa cultura.
Isso completa o sentido do escutar bíblico. Ver e escutar são processos que se
vivem melhor ao se envolver o coração. Isto significa que a experiência de Deus
não pode ser vivida apenas pelo conhecimento, mas por todas as dimensões de
nossa vida a fim de nos tocar e transformar.”[6]
[6] Ibidem
Padre Gordiano chama
atenção com o convite a inspiração no documento Apostólico do Papa Francisco
sobre o significado do presépio e de sua tradição “iniciada por São Francisco,”
refletindo o presépio como um mosaico popular. “Este mosaico não é feito com
vitrais de silicone ou de vidros, é construído com os elementos que recordam o
lugar humilde onde Jesus nasceu, e por isso mesmo é originalmente construído
com elementos da natureza ou que relembram a natureza e sua simplicidade.”[7]
[7] Ibidem
Neste sentido, recorda
padre Gordiano, que o primeiro presépio construído por “São Francisco deu visão
à manjedoura, ou gamela como dizemos em nosso bom português – o lugar onde os
animais comem; destacou a palha, o boi, o burro, o pai e a mãe do menino Deus.
Este lugar tão simples recorda também a casa de muita gente no tempo do próprio
Francisco de Assis e de nosso tempo. A cena entoa a presença de figuras
representantes do primeiro momento de chegada da pessoa de Jesus no mundo humano
– a criação, a família e depois, a divindade de Deus na figura do anjo. Essa
cena é como um desenho mental que ajuda a contemplar o princípio de uma nova
era na humanidade.”[8]
[8] Ibidem
Salienta ainda que “dos
grandes aos pequenos gestos, o que mais vale é fazer a vontade de Deus. Tudo
que for bom e nós o praticarmos, tem seu valor diante de Deus. Desde o sinal da
cruz que traçamos sobre nosso corpo até construir um Templo em louvor a Deus,
tudo vale a pena. Mas nada disso tem sentido senão for com amor, por amor e por
fidelidade à vontade do Senhor. Maria e José aceitam a vontade divina em suas
vidas e assumem a maternidade e paternidade de Jesus. Mas todos os que praticam
essa mesma vontade, também tornam-se família dele.”[9]
[9] Ibidem
De tudo que fizermos e
vivermos tem sentido, tem validade se estivermos sintonizados com essa mesma
vontade divina. Por isso fiquemos atentos quanto aos nossos presépios. Seu
sentido não está relacionado ao luxo, ao enfeite externo. O presépio mais
bonito é aquele construído com a verdade e simplicidade de sua vida.”[10]
[10] Ibidem
Em formas de perguntas
expressa alguns questionamentos para a nossa reflexão: “Qual a habitação mais
plena de Deus – o Templo ou no ser humano? Ouvimos na primeira leitura a
narrativa sobre a construção do Templo de Jerusalém, ordenada pelos reis da
Pérsia e Síria. Este lugar por muitos anos foi referencial para a prática da
religião do povo judeu até o dia de sua destruição. Outro Templo foi erguido
anos mais tarde e também foi destruído depois por volta do ano 70 depois de
Cristo. Mas o Templo vivo onde Deus habita por excelência não pode sofrer
violações, embora sofra muitas até nossos dias – é o Templo vivo do Ser humano.”[11]
[11] Ibidem
“O zelo respeitoso que
fomentamos ao Templo, lugar da oração não pode substituir o zelo amoroso que
devemos ter para com o Ser humano, primeiro santuário e moradia de Deus, criado
para ser imagem e semelhança do altíssimo, desde a concepção, passando pela juventude
até a morte natural. Será que ainda há crianças nascendo em situações
semelhantes a de Jesus?”[12]
[12] Ibidem
“O lugar onde Jesus
nasceu foi em meio aos animais. Onde ele foi posto chama-se manjedoura, escrito
praesepium em latim, daí a tradução presépio em português. Isso se deu porque
não havia vagas nas casas, nas pensões naquela noite. À nossa memória salta
tantas situações de nossos dias em que as crianças não encontram abrigo,
acolhida e nascem ao relento.”[13]
[13] Ibidem
“Quando a vida aflora,
quando chega aquela hora nada impede ela de acontecer. Pode ser dentro do
carro, no avião, dentro da canoa, no meio do mato, ou tristemente no corredor
dos hospitais pelo mundo afora. Em grande parte isso acontece porque a vida
acolhida no ventre nem sempre encontra a mesma acolhida no coração de todos.”[14]
[14] Ibidem
Conclui padre Gordiano,
“Meus irmãos e irmãs, na escola de Francisco aprendamos gratidão por ter em
nossas mãos a chance de poder cuidar da vida, protegê-la e fazer florescer em
nós a vida divina por meio das vidas que amamos e cuidamos. E quando pensarmos
no presépio, pensemos antes, na manjedoura de nosso coração para acolher sempre
o Senhor em nossa vida.”[15]
[15] Ibidem
A terceira noite com
o subtema, Manjedoura refúgio para a alma, Padre Gordiano
falava da importância de recordarmos ao menos três faces da escola franciscana:
“a vida de São Francisco de Assis, o presépio iniciado por ele e, o ministério
Petrino do Papa Francisco. Em cada uma dessas faces, vemos estampadas a
expressão da alegria e da gratidão a Deus e as atitudes que acompanham e
completam a gratidão. ”[16]
[16] Ibidem
Nessa noite foi destacado
o símbolo da manjedoura e do capim, como expressava Padre Gordiano eles dão
“visibilidade à humildade e acolhida de Maria e de José que transborda em nossa
cultura. A manjedoura- refúgio para a alma é nossa
inspiração para a contemplação e partilha da Palavra de Deus. O que poderia ser
encarados apenas como sofrimento, dificuldade por nascer em meio ao capim que
serviu de travesseiro e os animais que serviram de companhia ao recém-nascido,
ganhou outras configurações. A manjedoura tornou-se símbolo dos quais
escolhemos enfatizar dois: a humildade e a acolhida do lugar e do casal.”[17]
[17] Ibidem
Refletindo a leitura
Padre Gordiano destacava a história do sacerdote e escriba Esdras que
“reconhece que houve pecados do seu povo contra Deus e pede perdão ao Senhor. A
história registra que a vontade de Esdras era revitalizar a religião judaica
purificando-a das misturas geradas pela relação com outras culturas. Isso não
seria possível porque muitos homens de seu povo haviam casados com mulheres da
Babilônia onde estiveram exilados. Uma compreensão religiosa que rejeita a
acolhida e a mistura com outros povos, diríamos hoje. ”[18]
[18] Ibidem
Ao refletir o Evangelho
Padre Gordiano ressalta a importância da acolhida na missão como atitude e
valor de vida, e não como ato isolado, dizendo que; “No Evangelho aprendemos de
Jesus as observações a serem cumpridas pelos discípulos enviados em missão – abandono
nas mãos do Senhor, desapegado de tudo (comida, roupa, dinheiro, segurança),
sem orgulho pessoal (se não forem aceitos saiam…); conteúdo principal a ser
proferido é o anúncio do Reino. A atitude de saída em missão não nega a atitude
da acolhida de quem se encontra pelo caminho. Quem acolhe bem atua na missão,
quem parte em missão deve acolher bem. A acolhida é uma atitude de vida, um
valor e não simplesmente um ato isolado.”[19]
[19] Ibidem
Neste sentido pode-se
refletir que a “manjedoura onde Jesus nasceu é seu primeiro lugar geográfico
onde ele é acolhido. Este lugar simboliza para nós a atitude de quem se coloca
na condição de humildade para acolher a quem chega. Não repare a bagunça,
entre! É assim que muita gente diz ao receber outras pessoas em sua casa. O
café na mesa, a água para beber e o sorriso estampado de alegria em meio aos
quase nada de material e quase tudo de virtude.” Ressalta Padre Gordiano, e
conclui dizendo que “a mesma simplicidade, humildade e acolhida do presépio
seja também assumida por todos nós. Quem se aproximar da gente, de nossas
casas, de nossas comunidades, sinta que a casa é nossa!”[20]
[20] Ibidem
Na quarta noite com
o subtema “a Ternura de Deus” Padre Gordiano pontuava a expressão
de nossa “gratidão pela ternura de Deus que se torna um de nós. Em seu processo
de esvaziamento Deus se rebaixa e se coloca na mesma altura de nossa condição.
Em Jesus, o Pai nos deu um irmão, um amigo, um companheiro de viagem pelo
caminho da existência e na volta para seu eterno coração. A ternura de
Deus que contemplamos a partir do presépio em sentimentos, mas no modo como o
Pai se aproxima e cuida de cada um de seus filhos e filhas. Não se resume.”[21]
[21] Ibidem
A luz da Palavra de Deus
pontuava que a “Ternura de Deus encontra resistência e rejeição sobre muitas
formas ao longo dos séculos. E ao menos duas podem ser expressadas: “a
construção da casa do Senhor (qual casa?); a violência institucionalizada do
governo de Herodes. ”[22]
[22] Ibidem
Padre Gordiano levanta
dois pontos: 1º. A construção da Casa do Senhor. Falava que
“ao longo dos tempos o Povo de Deus sempre manifestou muito respeito pela Casa
do Senhor. O lugar onde as pessoas se encontram para celebrar a fé e a vida
fazendo suas oferendas e elevando seus louvores ao Senhor. Esse espaço sagrado
é onde os irmãos na fé sentem-se amados, respeitados e motivados a seguir
avante. Mas, sua sacralidade só terá sentido na vida uns dos outros, se cada um
carrega consigo a força da mesma sacralidade. As pessoas abertas ao mistério
enriquecem a expressão do mistério da casa de oração, na vida uma as outras.
Não é o lugar físico onde as pessoas se encontram que faz ou é a Igreja. As
pessoas de fé reunidas neste lugar formam ou não a Igreja, a Casa do Senhor.”[23]
[23] Ibidem
“Construir essa Casa do
Senhor na existência das pessoas demora mais que levantar o prédio. O Templo
que havia em Jerusalém no tempo de Jesus foi erguido sob as ordens do Herodes e
levou 46 anos pra ficar pronto. O prédio depois de erguido, exige os cuidados
da manutenção, as pessoas reunidas precisam o tempo todo de alimentar a
comunhão.”[24]
[24] Ibidem
“A Igreja, povo de Deus,
vive em constante reconstrução. Vez por outra há situações que nos põem em
crise. Há desentendimentos, há alguns querendo ir mais rápido sem respeitar os
passos lentos; há quem não aceita alterar sua velocidade; há quem sabe tudo e
quer ensinar a todos sem querer aprender mais nada; há quem só abre a boca
quando tem certeza e sempre está com a razão. Mesmo com todas as diferenças,
trejeitos, rebeldias, birras infantis de crianças e adultos, a construção da
Igreja povo é muito bonita. Ela é expressão da vitalidade que um prédio não
tem. Por isso demora muito para se erguer a Construção ou reconstrução da Casa
Povo do Senhor.”[25]
[25] Ibidem
E diz ainda que “o
presépio é símbolo da Ternura de Deus que pacientemente se torna um de nós do
modo mais humilde possível. Sua ternura abraça toda criatura. Ele não se impõe
e nem exige as honrarias exigidas pelos grandes das cortes ao desconfiarem que
existe alguém ameaçando seu poderio. Herodes representa essa figura que
contrária a Ternura. Ele é pintado na história com as cores da violência, da
agressividade. ”[26]
[26] Ibidem
O segundo ponto foi: A
violência institucionalizada
Padre Gordiano expressa
que: “o Evangelho de hoje nos apresenta um Herodes inquieto, preocupado porque
há alguém representando ameaça a seu poder. Seu modo de agir e de decidir as
coisas inclui o uso da força e da violência. Ele admite ter mandado matar João
Batista. A história registra que ele matou muita gente, seguindo a herança
sanguinária de seu pai, Herodes o Grande.”[27]
[27] Ibidem
Os Herodes de ontem e de
hoje continuam agindo, com suas tramas, malícias, perversidão e perversidade.
Eliminam ou tentam eliminar sem dó nem piedade a todas as pessoas que
demonstram o menor sinal possível de contraposição. Isso é o contrário, o
oposto da Ternura de Deus. ” E concluiu dizendo: “A partir da imagem do
presépio, contemplamos a Ternura de Deus e aprendamos viver seu modo de
esvaziamento. Nenhuma feição de poder encontra-se impresso nessa imagem.
O único poder ali presente é a força do amor do coração do Senhor. ”[28]
[28] Ibidem
Na quinta noite com
o subtema, “de Belém à Cruz, da manjedoura à Eucaristia, ” reflitamos
que “esse foi um caminho percorrido em várias etapas pelo Senhor. Vejamos três
dessas etapas: o tempo do silêncio e da convivência familiar; o tempo da missão
pública; o tempo da doação da vida.” Ressaltava padre Gordiano.
1.
Silêncio em família
“A Bíblia não relata
muita coisa sobre a vida de Jesus nos tempos de sua infância. Tudo que sabemos
é escrito em São Mateus e São Lucas, nas primeiras páginas de seu evangelho.
Lucas diz que Jesus crescia em idade, sabedoria, graça e era obediente os seus
pais. O silêncio sobre sua vida na infância, adolescência e juventude não
ocultou a verdade de sua história. Quando Ele se manifestou, deixou ver que
todos os anos vividos junto de seus pais, o prepararam para a missão que o Pai
Criador lhe havia confiado. Esse tempo de silêncio, de sintonia e configuração
humana e familiar tem seu início no presépio sobre os olhares atentos de sua
Maria, de José, dos animais, dos pastores e dos que chegando aos poucos.” [29]
[29] Ibidem
2.
Missão pública
“As etapas da vida humana
de Jesus fisicamente presente entre nós, um dia ultrapassa os umbrais da porta
da casa de sua pequena família em Nazaré e ganha dimensões maiores com o
batismo no Rio Jordão. Desse dia em diante o silêncio contemplativo vivido junto
de Maria e José será testemunhado pelos discípulos que mais tarde irão
compreender, aprender e viver a relação de entrega confiante ao Pai e o serviço
aos irmãos e irmãs. Essa contemplação tem duas direções: Jesus muitas vezes se
coloca em oração ao Pai no silêncio e na solidão; ao mesmo tempo, todos os dias
Ele observa atentamente a realidade das pessoas à sua volta.” [30]
[30] Ibidem
3.
Doação da vida
“O caminho percorrido por
Jesus é marcado pela simplicidade, pelo desapego, pela doação da vida desde o
começo até o fim, desde Belém onde nasceu até Jerusalém onde morreu, desde o
presépio até a Cruz. A Eucaristia é por excelência o sacramento que condensa a
doação da vida de Jesus. O mesmo Filho de Deus encontrado sem as insígnias (sem
as credenciais divina) no silêncio do presépio é o mesmo que morre sozinho no
alto da Cruz. Ele mesmo se doa a nós como pão da vida no altar Eucarístico.”
[31]
[31] Ibidem
Padre Gordiano concluiu expressando que “São Francisco percebeu que faltava algo para ajudar a dar visibilidade humana ao mistério da Encarnação do Filho de Deus. Com muita eficiência ele soube celebrar a relação profunda entre o mistério da encarnação do Senhor (especialmente com a imagem do presépio), a doação de sua vida na missão, na Eucaristia e na Cruz. […] lembre-se, quando chegar o natal, o presépio não é um enfeite qualquer. É expressão de uma consciência de fé de quem acolhe em sua vida o mistério do amor salvador de Deus que se encarna em nossa realidade para nos doar e nos envolver em sua eternidade.
Na sexta noite com
o subtema, “as noites de nossa vida,” padre Gordiano nos recordava a
importância de estarmos “cientes que neste tempo de celebração e vivência
comunitária e liturgia de nossa fé, participamos da memória do mistério de
Cristo na Santa Eucaristia e recordamos os 800 anos desde que São Francisco de
Assis iniciou a Tradição do Presépio. O Papa Francisco escreve um Documento
chamado ‘Admirável Sinal’. – Hoje destacamos a escrita do papa que trata das
noites de nossa vida, simbolizadas no sinal do céu e das estrelas do presépio.
Este céu de nossa existência, as vezes está estrelado e outras vezes banhado
pela escuridão. Muitas vezes o céu de nossa vida encontra-se resplendentes e
vez por outra se mostra obscurecido, sem seu brilho devido.” [32]
[32] Ibidem
“A partir de nossa
realidade e da Palavra de Deus nos vem inspirações para nossa partilha. A
realidade nos faz ver muita escuridão pairando sobre a noite de nossas vidas,
assim como na vida do Povo de Deus na Bíblia e na vida de Jesus, de quem se
aproxima a escuridão mais densa e Ele já pressente seus sinais dolorosos.” [33]
[33] Ibidem
1. A
realidade
“Na noite de Natal e em
outras noites do ano, quase todos nós vamos celebrar com mais entusiasmo e
alegria em nossas casas, com o povo reunido, comida na mesa e o aconchego
familiar. Ao mesmo tempo, há muita gente ao relento – sem abrigo, sem lugar
para viver, para dormir decentemente, sem lar e sem sossego. Pensemos nos
migrantes, nos que são levados a trabalhar longe de suas casas e nos
missionários estrangeiros. Mas lembremos também de muitas pessoas de nosso povo
que ainda está lutando para conseguir seu abrigo. E de várias situações em que
a noite da vida se torna tão escura que nem pensamos no novo dia que haverá de
raiar.” [34]
[34] Ibidem
2. A vida do povo de Deus
e de Jesus
“O povo de Deus registra
a construção do Templo e sua queda, o erguimento da cidade e sua destruição, o
exílio quando foram expulsos de sua terra e a volta pra casa. Acompanharam o
tempo em que Israel foi potência entre outras nações e até mais poderosa que
outras nações e outra vez entrou em decadência. Mas este povo de Israel,
historicamente continua de pé, lutando mais não desiste. Eles não tem fé que
Jesus seja o Filho de Deus enviado para salvá-los, mas acreditam no Senhor Deus
do seu modo e não perdem a esperança.” [35]
[35] Ibidem
“Na vida de Jesus a mesma
experiência foi sentida. Ele percebeu que sua vida humana seria posta em risco
e teria um fim não desejado por ninguém. Não reclamou, mas preparou seus
discípulos para enfrentarem com coragem e confiança esse tempo difícil que se
aproximava. Mesmo assim não foi possível estar preparado a contento, porque
humanamente falando é muito difícil estar preparado para a morte. A pessoa que
vai morrer (seja por doença ou por castigo como nas penas de morte) demora um
tempo para entender os passos dessa preparação e aceitá-los e as outras pessoas
sentem a mesma dificuldade. Não aceitam a morte de seu ente querido. A saudade
fica por vários anos e muitas vezes nem é superada.” [36]
[36] Ibidem
Ao concluir padre
Gordiano fala sobre algumas “conclusões que esse símbolo pode despertar em nós:
A beleza do universo não está na uniformidade, mas na diversidade, nos
contrastes, na harmonia das cores, dos altos e baixos, dos sorrisos e das
lágrimas e até da vida que morre pra renascer e da morte que ganha o sentido de
eternidade. Quando a noite da sua existência ficar escura, não temas. Acredite
que ainda haverá um novo dia. O sol do novo dia haverá de brilhar e iluminará
sua estrada. Se há problemas também há soluções; se há doenças, também há
remédio para a cura; se há fome, também existe como conseguir pão – se faz
necessário não perder a confiança, acreditar em si, nos demais e em Deus,
unir-se a outras pessoas e empenhar esforços em busca de conseguir alcançar o
melhor para todos. Afinal de contas, a noite mais longa sempre há de ser
superada pelo novo de Deus ao iniciar outro dia.”
Na sétima noite que
foi iluminada com o subtema, “A novidade divina, no mundo sem Deus”. Em
sua homilia padre Gordiano dizia que: “na Escola de Francisco,
aprendamos gratidão. É assim que estamos celebrando essas noites,
sempre atentos ao Documento do Papa ‘Admirável sinal’, e nos 800 anos do
presépio cuja Tradição foi iniciada por São Francisco de Assis. Essa Tradição tem
sua beleza e sua verdade. E hoje como destaque nos deixemos inquietar por essa
afirmação e pergunta “Como podemos ver a novidade divina, num mundo
sem Deus?” [37]
[37] Ibidem
“A validade dessa
pergunta encontra seu espaço por todos os modos de distanciamento e de
indiferença para com Deus, daí dizermos um mundo sem Deus. Há vários elementos
nesta afirmação, dentre os quais escolhemos três: a falta de espaço para Deus
(ele vai aí atrás- no acidente os ovos não se quebraram); o uso do nome do
Senhor; falar, celebrar e viver qual Deus?” [38]
[38] Ibidem
1. A
falta de espaço para Deus
“Na primeira leitura, o
profeta Ezequiel diz ao povo “Vós andais dizendo: a conduta do Senhor não é
correta… é minha conduta que não é correta ou é a vossa?”. Em nosso mundo
tecnologicamente avançado, digitalmente em expansão e realmente em princípios
de explosão, muitas vezes percebemos uma atitude de rejeição a Deus e outras
vezes, a atitude de indiferença tanto por parte de quem não crê quanto por
parte de quem crê.” [39]
[39] Ibidem
“Rejeita-se Deus quando
mesmo sabendo qual é a verdade, qual é a atitude a ser praticada, a pessoa faz
o contrário, age segundo os instintos e impulsos individuais. Em termos
práticos, deixa a oração para depois se der tempo, deixa o dízimo se sobrar
dinheiro, deixa pra visitar um enfermo quando estiver desocupado, e só ajuda o
caído depois da foto. Nessa mesma postura muitas vezes se houve dizer que a
culpa do mundo está mal é do sistema, é da política e dos governantes, é da escola…
menos da pessoa que faz a análise. Este tipo de postura rejeita a ação e
presença de Deus e diz não a alegria de colaborar com o Senhor pelo bem de sua
obra. É claro que eu também me acuso como culpado por este tipo de postura,
pois eu sei que isso também me invade.” [40]
[40] Ibidem
“Esse mundo que rejeita
Deus o faz de modo ainda mais perigoso quando atua com indiferença para com
Ele. E aqui uso de uma história já conhecida para ilustrar. Um grupo de jovem
passou na casa de um amigo e o levou para a festa. A mãe, sempre atenta, disse
ao filho “vá com Deus, meu filho”. O filho respondeu “só se Ele for no porta
mala do carro”. Pela manhã, a mãe ficou sabendo que num acidente o carro ficou
todo destruído, os rapazes todos mortos, e no porta mala do carro havia uma
forma de ovos, sem nenhum ovo quebrado.” [41]
[41] Ibidem
2. Corromperam o nome de
Deus
“Não é a conduta de Deus
que está errada, é a conduta humana que rejeita a vontade Deus, finge que Ele
não existe ou ainda deturpa a verdadeira mensagem divina com práticas
religiosas fraudulentas, usando e manipulando o nome do Senhor para enganar
pessoas de boa fé.” [42]
[42] Ibidem
“Na segunda leitura que
ouvimos da Carta de São Paulo aos Filipenses, o apóstolo chama a atenção para
termos os mesmos sentimentos de Jesus. Ele recebeu um nome acima de todo nome a
quem se deve dobrar os joelhos no céu, na terra e abaixo da terra. Pois bem,
meus irmãos e irmãs, a busca pela felicidade e bem estar emocional, psicológico
e até financeiro fez e faz várias pessoas abandonar seu primeiro amor religioso
e partir para outros grupos religiosos.” [43]
[43] Ibidem
“Ocorre que em meio a
tanta diversidade, encontram-se os que não visam salvar a alma dos outros, mas
salvar o seu bolso, aumentar seu patrimônio e fazer crescer seu poder. Há quem
em nome de Deus gere discórdia, motive agressões e violações dos direitos e da
vida alheia. Há quem em nome da purificação da fé tenta salvar Deus ofendendo
seu semelhante ou defende tanto o ser humano que renega Deus em nome da
Liberdade excessiva – como ter liberdade sem saber para onde ir? Não basta ter
uma religião, sem o envolvimento com o Reino da vida de Deus, a religião se
torna ilusão, enganação, roubalheira. Cuide bem de sua fé e não a deixe
deturpar.” [44]
[44] Ibidem
3. Religião sem a atuação
prática não tem valor
“Note bem no seu coração
com outras palavras ‘Religião sem a prática (da caridade, da justiça, do
perdão) não tem valor’. Religião não se faz apenas com boa intenção. Não é
dizer Senhor, Senhor que faz realizar e construir o Reino de Deus.” [45]
[45] Ibidem
“Quando o Senhor lhe
chamar, quando a voz de Deus confiar a você uma responsabilidade assuma sua
parte. Ela lhe é entregue para sua felicidade e realização. Para você colaborar
com o Senhor na edificação de Seu Reino eterno.” [46]
[46] Ibidem
E padre Gordiano ao concluir afirma que: “em Deus tudo ganha novo sentido. Ele é eternamente novo e assim torna novo tudo o que cria e todos que se abrem consciente e livremente à sua graça. Não se deixe seduzir pela rejeição a Deus, nem pela indiferença, nem pela deturpação da fé, da religião e da espiritualidade. Num mundo que ofusca Deus, colabore para que sua presença se torne viva na sua vida e na vida de outras pessoas.”
Na oitava noite,
com o subtema, “Nossas Casas, moradas do Altíssimo,” padre Gordiano
saúda os fiéis presente e convida-os a refletir a importância do subtema da
noite e da memória dos Santos Anjos Guarda. Segue dizendo: “Diante de nossos
olhos a imagem do presépio de Jesus nos expõe uma realidade inquietante e muito
enriquecedora. Vejamos alguns pontos: O presépio é o primeiro abrigo físico de
Jesus. A grandeza do criador se apequena a ponto de adentrar no espaço humilde
da criação e torná-la seu aconchego. Não foi por falha de José e de Maria, pelo
contrário, foi por iniciativa do casal. E isso se deu porque no coração de
ambos, Deus havia sido acolhido. De um lado temos a largueza do coração de quem
acolhe a vida plena que nos veio visitar e de outro, a atitude de quem tem
outras opções e o rejeita. Quem o acolhe transforma sua casa em MORADIA DO ALTÍSSIMO.
A casa física torna-se expressão da casa interior (o coração do morador). Se
seu coração é habitado por Deus, sua casa transbordará essa presença.” [47]
[47] Ibidem
“A palavra de Deus que
ouvimos nos inspira a rezar sobre a acolhida dos anjos de Deus em nossas vidas,
em nossos corações e em nossas casas. Na primeira leitura, o Senhor promete o
envio de um anjo que irá defender seu protegido se este fizer a vontade divina;
o evangelho lança o desafio a quem quiser ser grande no Reino dos céus ‘torne-se
pequenino como uma criança.” [48]
[48] Ibidem
“Há uma relação entre sua
realidade interior e sua realidade exterior. Se você acredita na paz deverá
despertar e realizar práticas que favoreçam a paz entre as pessoas. Sua casa
não pode ser lugar de intrigas ou confusão, de exageros e prazeres
desenfreados, mas lugar de convivência sadia, de diálogo e amizade entre todos.
Desse modo quem se aproximar ou conviver convosco sentirá a presença e a força
de Deus transbordando através de você e sua família.” [49]
[49] Ibidem
“Todavia se você sente
que seu lar ainda necessita dar passos para tornar-se o melhor lugar para a
moradia de Deus, então comece por você. Torne-se uma pessoa diferente. Aprenda
a silenciar suas inquietações, coloque-se à disposição para servir. Ajude quem
lhe pedir ajuda e reze por todos. Sua mudança de vida certamente irá motivar
novas atitudes na vida de seus familiares e amigos. E quanto mais você assumir
um novo jeito de ser e viver, mais estarás se configurando ao coração do
Senhor. Peça a seu anjo da guarda que lhe ajude a ser também anjo na vida
de seus semelhantes.” [50]
[50] Ibidem
“Os anjos são mensageiros
de Deus. Tem uma tarefa a cumprir e a cumprem com toda a presteza. Eles são a
própria presença de Deus na figura de seus enviados. Nossa tradição nos diz que
cada um de nós tem seu próprio anjo. E aqui nos vem à mente a nossa
responsabilidade por nossos anjos, figurados em nossas crianças.” [51]
[51] Ibidem
“Todos nós sabemos que
nas casas onde há uma criança, deve haver um clima diferente. Uma alegria
especial. Um cuidado sereno. Cada gesto, cada palavra, cada passo dado, cada
novidade da criança alegra a todos da família. Por isso nos entristecemos
quando há abusos, maus tratos, violências e violações de nossas crianças que
nasceram e mais ainda das que foram impedidas de nascer.” [52]
[52] Ibidem
“Assim como Deus nos
confia anjos para cuidar de nós, também envia anjos para que aprendamos a
cuidar dEle. A presença de criança em nossas vidas, em nossas casas é a
presença do próprio Deus. O mesmo que um dia foi acolhido no pobre presépio na
noite escura de Belém. Isso nos coloca em situação muito parecida com a
situação de Maria e de José, responsáveis pela vida de Jesus.” [53]
[53] Ibidem
“Tomemos como inspiração
e compromisso seja qual for a situação, não podemos jamais aceitar que uma
criança tenha seu direito de nascer negado. Não nos cabe fazer propaganda,
ganhar likes, curtidas e compartilhamentos, nos cabe simplesmente nos manter
firmes, na promoção da vida desde a fecundação até o último suspiro. Você
mamãe, você papai, você jovem, você criança agradeça a Deus por seu anjo lhe
defender em várias situações, e seja anjo defendendo a todos que estão à sua
volta especialmente quem ainda não pode se defender sozinho. Sim à vida, não ao
aborto, mas também não à guerra, à droga, à violência, ao abuso e exploração
sexual ou trabalhista de nossas crianças.” [54]
[54] Ibidem
“Como última palavra, você tem um anjo especial. Seu anjo da guarda. Diga depois de mim ‘muito obrigado Senhor por meu anjo da guarda, meu protetor”. E agora diga também “conte comigo Senhor, pra ser anjo na vida de quem necessita de mais amor’”. Assim concluiu padre Gordiano.
Na nona e última noite de novena com o subtema, “Lugar da santidade cotidiana,” padre Gordiano inicia sua homilia com as seguintes perguntas: “Meus irmãos e minhas irmãs, qual é o seu lugar para viver a santidade cotidiana? Em todo lugar que você se encontra é possível sentir-se na presença de Deus e viver sua vontade? Estamos vivendo um tempo que nos convida a retomar a consciência da integralidade das dimensões de nossa vida. Tudo que pensamos, sentimos, falamos, fazemos, tudo que construímos e com quem nos relacionamos tem efeito e relação com tudo e com todos. Atinge a tudo e a todos. O que fazemos no quarto escondido, o foguinho gerado no fundo do quintal, o roubo da moedinha da vovó, o cigarro fumado escondido do papai, o voto vendido somente entre o eleitor e o candidato… e todas as coisas boas que fazemos, tudo está interrelacionado.” [55]
[55] Ibidem
“O símbolo escolhido para
estas noites de novenário foi o presépio. Nele estão condensadas todas as
expressões da vida do povo simples e humilde de todas as épocas. Por meio de
sua simbologia, tudo que nele é posto expressa a vida do povo e a santidade
cotidiana que nela se esconde, se vela e revela, afinal de contas, a realidade
de nossa vida é permeada pela presença de Deus. O presépio relembra também a
realidade de nossa vida cotidiana, o lugar para se viver a santidade cotidiana,
caso contrário o inimigo tentará se apoderar desses espaços com suas manhas e
artimanhas. Vejamos algumas luzes que a Palavra de Deus nos mostra para nossa
contemplação da realidade de nossa vida.” [56]
[56] Ibidem
“Na primeira leitura que
ouvimos, a profecia de Zacarias aponta para o dia em que os povos terão em
Israel um lugar de referência, quando de todos os recantos virão gente ‘orar na
presença do Senhor’. Isso é expressão da mentalidade de que o povo de Israel é
um povo santo. Sua história, os feitos e efeitos do passado, as pessoas e seus
costumes são permeados pela presença de Deus. Deus habita este lugar e vive no
meio do seu povo. Por isso não se deve praticar atos de injustiça, de maldade,
isso contraria e ofende a presença e atuação do Senhor entre seu povo.” [57]
[57] Ibidem
“Por outro lado, o
excesso, o radicalismo de se achar o único povo santo e abençoado pelo Senhor
gerou animosidade contra outros grupos. É o que percebemos no Evangelho quando
os enviados de Jesus para preparar hospedagem a seu grupo, são rejeitados pelos
samaritanos. Eles não se dão bem com os habitantes da Judeia especialmente por
questões religiosas. Os da Judeia se acham puros, fiéis a Deus e acusam os
samaritanos de serem pecadores, impuros, pois entre eles há a presença de
misturas de costumes e práticas religiosas de outras culturas.” [58]
[58] Ibidem
“À pergunta inicial
acrescentamos mais alguns elementos para nossa oração: Deus é santo e tudo que
a Ele pertence também é santo, o que isso significa? Se Deus está em todo lugar
e tudo é santo, porque tanta injustiça e maldade? Como podemos realmente
desenvolver a marca da santidade no cotidiano de nossas vidas?” [59]
[59] Ibidem
“Deus está conosco
sempre. Está presente e atuante em todos os espaços e momentos. São Francisco
compreendeu e viveu bem essa certeza, por isso chamou todas as criaturas de
irmãos. Todas são obras do Senhor, devem ser respeitadas como tal. Não podem
ser agredidas ou destruídas. Não importa se seja um palácio de luxo, uma casa
exuberante ou uma palafita. Temos dito e repetimos, que a primeira casa onde o
Senhor é bem acolhida é a casa do coração.” [60]
[60] Ibidem
“Com o
coração aquecido e habitado por Deus transborda o amor para os irmãos. Mas
atenção não queira se apossar de Deus como sua propriedade. Não se coloque como
dono das coisas de Deus. A religião não é sua. A Igreja não é sua. Nem mesmo a
vida é sua. Fique feliz por poder usufruir de tudo isso. E se coloque na
alegria de quem é honrado pelo Senhor por meio desses dons. Quem se apossa das
coisas de Deus achando que é somente Seu, assusta, exclui ou elimina quem é
diferente- triste contradição que levou Jesus à morte. Triste situação de quem
lidera os espaços públicos e toma pra si o dinheiro, os bens e as vidas
colocadas sob sua autoridade.” [61]
[61] Ibidem
“Todo lugar, todas as
coisas são permeadas pela presença de Deus. E são santas à medida que nossas
atitudes utilizarem de tudo para o bem de todos. Assim, a santidade das
pessoas santifica o lugar onde elas se encontram. É este o lugar da santidade
cotidiana, o lugar onde você vive. Esse se torna o presépio, do altíssimo, o
sacrário de Jesus. O presépio que acolhe o corpo humano, o sacrário que torna
viva a sacralidade e santidade do Senhor.” [62]
[62] Ibidem
E padre Gordiano concluiu dizendo: “se você fosse transformar sua casa num grande presépio para Jesus, quem você colocaria como elemento de sua constituição? Não pense nos enfeites comerciais, nem na aparência temporária. Pensemos e louvemos a Deus por todos os pais e mães que se doam pelo bem de sua família. Pensemos na convivência sadia onde todos tem sua responsabilidade, dialoga, acorda cedo, faz sua oração, diz o que se sente sem agressão, não chama palavrão, ajuda nas despesas, não tem medo de ser roubado, não alimenta ciúmes, mas se precisar ficar com fome para alimentar os seus o faz com alegria sem reclamações… coloquemos no presépio de nossas casas tudo o que é verdade de nossas vidas cotidianas. E em tudo que vivenciarmos transborde o amor de Deus em nossas vidas e de nós contagia a vida de outras pessoas à nossa volta. Se na vossa casa houver espaço para a humildade do presépio, também haverá para a sacralidade do Sacrário.”
Na décima e
última noite, (encerramento do festejo), padre Gordiano lembrava que o tema
“Na Escola de São Francisco aprendamos gratidão, foi o convite repetido
ao longo das noites. A justificativa para este tema encontra-se nos 800 anos da
Tradição do presépio iniciada por São Francisco de Assis. As inspirações nos
vem da Carta 'Admirável Sinal' [Ler a carta na íntegra] escrita pelo papa Francisco e da
Palavra de Deus a iluminar a realidade de nossa vida.” [63]
[63] Ibidem
“Nessa noite de Festa deixemos
que a Palavra de Deus fale em nossa vida e nos incomode, nos inquiete nos torne
capazes de assumir a gratidão como parte natural de nossa existência cotidiana.
Mas não nos referimos a dizer uma palavra como ‘Muito obrigado, obrigado,
valeu’. Nos referimos a uma atitude de vida, um jeito de viver que traduz por
palavras, por gestos e até por presença silenciosa o contentamento por todas as
graças já recebidas, por todas as pessoas conhecidas, por todo o conhecimento
adquiro e por tudo que já foi possível construir e viver.” [64]
[64] Ibidem
“Quem de nós aqui é
devoto de São Francisco? Parabéns a todos que admiram, e se maravilham com tudo
que é dito sobre nosso Santo e irmão universal. Mas note bem, não basta
admirar, achar bonito e celebrar louvando a Deus de vez em quando. Queremos
aprender todos os dias, as boas lições do pobre de Assis. Então vamos a algumas
delas: reconstruir a Igreja; deixar para trás o bom e escolher o melhor.” [65]
[65] Ibidem
1. Reconstruir
a Igreja
“A história da conversão
de São Francisco inicia pelo convite “Francisco, vai e reconstrói a minha
Igreja que está em ruínas”. Ele aceitou o convite, e aos poucos foi entendo a
extensão de sua responsabilidade. Começou reformando a pequena capela de São
Damião onde ele ouviu a voz de Deus. Mas logo se deu conta que a missão era
muito maior. A Igreja viva, o povo de Deus encontrava-se em situação decadente.
A miséria humana havia invadido e estava carcomendo a Igreja. Era necessário o
envolvimento existencial do pobre de Assis nessa obra de restauração.” [66]
[66] Ibidem
“A experiência de
construção e reconstrução da Igreja é uma prática comum ao longo de nossa
história de fé. Conforme temos ouvidos nessas noites, o Templo judaico em
Jerusalém foi erguido três vezes. O primeiro por Salomão, o segundo pelos reis
da Pérsia (no pós exílio) e o terceiro por Herodes. Ouvimos hoje o momento em
que Neemias pede ao Rei que autorize sua volta para casa com a autorização de
ajuda para a realização de seu intento.” [67]
[67] Ibidem
“Mas a história mostra o
quanto o processo de reconstrução do povo de Deus demora e nunca chegará à sua
plena conclusão a não ser no Reino eterno. Os Templos foram construídos, mas
quando chegou o tempo esperado para acolher o Salvador, Ele não foi acolhido. A
seu tempo Francisco de Assis entendeu que a pobreza e ruína da Igreja não
estava nos prédios, na falta de dinheiro, de estrutura e de poder. Estava na
falta humana de divindade. A estrutura interna do ser humano estava em ruína, a
fé estava se deteriorando e perdendo vigor.” [68]
[68] Ibidem
“Será que essa descrição
diz algo para nós? A Igreja está em ruínas? Os prédios estão caindo? Está
faltando gente? Falta dinheiro? Ou a falta maior está dentro de cada pessoa? De
todas as pessoas?” [69]
[69] Ibidem
“Não se sinta agredido, mas
veja se é possível rever suas práticas que ao mesmo tempo expressam e
geram a miséria do coração humano – as pessoas querem ser felizes, mas usam
drogas que vai eliminando sua vitalidade; querem viver em paz, mas promovem
intrigas umas contra as outras; querem viver num mundo bonito e puro, mas tocam
fogo enquanto o mundo está literalmente queimando; querem ser respeitadas, mas
enganam umas às outras; querem ter liberdade mas se deixam aprisionar por
mentes criminosas que as convencem de matar até mesmos suas crianças; o ser
humano quer continuar existindo mas cria bombas, destrói a natureza e atua
contra a extinção de sua espécie.” [70]
[70] Ibidem
“Isso precisa mudar. É
necessário. É urgente mudar. Mas na verdade, precisamos nos perguntar “Eu quero
mudar? Eu me comprometo mudar pelo bem de todos?” Não espere que haja leis,
imposições que obrigue sua mudança. Ou cada pessoa assume esse convite de
reconstruir a humanidade ou todos nós vamos acelerar o fim de nossa espécie.
Outros podem fazer com suas motivações puramente humanas, nós pela motivação da
fé em Deus. Pela gratidão ao Senhor.” [71]
[71] Ibidem
2. Escolher o melhor
“O evangelho de hoje
mostra exemplos de pessoa que não conseguiram dar o passo seguinte na vida.
Entre o convite e a possibilidade de seguir Jesus, resolveram esperar mais um
pouco. Se esse for seu caso, não espere escolher entre o bem e o mal, porque
quase sempre as escolhas mais difíceis estão entre o bom e o melhor.” [72]
[72] Ibidem
“Você se sente um ser
abençoado por Deus. Cristão amparado pela proteção divina. Não duvide disso.
Então saiba fazer de sua vida uma eterna e concreta gratidão a Deus. Não tenha
medo de assumir sua parte na reconstrução da Igreja viva. Essa que muitas vezes
está fraca dentro de você. Essa que muitas vezes você crítica ou aplaude quem a
crítica por defender a vida humana, por falar contra a corrupção, a violência,
a guerra. Essa que muitas vezes é chamada de comunista porque quer que os
cristãos tenham tudo em comum e os não cristãos tenham a vida respeitada. Se
você quer ser feliz, não escolha ser feliz sozinho. Isso gera concorrência. Se
você quer ter paz, não elimine seus irmãos; isso lhe trará perseguição futura.
Se você quer se salvar, aprenda a conviver. O céu é a excelência do amor e da
fraternidade. Não há lugar para o isolamento, para a indiferença. Tudo é
comunhão. O contrário disso se resume em inferno. Em divisão, em disputa, em
mentiras.” [73]
[73] Ibidem
“Padre Gordiano conclui
se dirigindo aos fiéis comas seguintes palavras: você é devoto de São
Francisco. Ouça novamente o convite de Deus feito a ele e a você, a mim, a
todos nós “reconstrói a minha Igreja”. Diga depois de mim “muito obrigado
Senhor, por nos dar em São Francisco a graça da renovação de sua Igreja. Nós te
agradecemos pela confiança depositada nele e em nós. Conte conosco neste tempo
em que estamos vivendo. Vós que viveis por todos os séculos dos séculos, amém.”
[74]
[74] Ibidem
REFERÊNCIA:
Pe. Raimundo Carvalho
Gordiano, em suas homilias nos dia de 25 de novembro a 04 de
outubro de 2023, festejo de São Francisco de Assis. Anori, diocese de Coari -AM
Papa lança Carta
Apostólica “Admirabile Signum” sobre origem e sentido do presépio. DIOCESE
PORTO NACIONAL. Disponível em: <https://dioceseportonacional.org.br/papa-lanca-carta-apostolica-admirabile-signum-sobre-origem-e-sentido-do-presepio/>. Acessado
em: 26 de set. de 2023.
CARTA APOSTÓLICA ADMIRABILE SIGNUM, Disponível em: <https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/papa-francesco-lettera-ap_20191201_admirabile-signum.html> Acessado em: 24 de set. de 2023.
0 Comentários