Me veio no pensamento que no futuro, daqui alguns anos nem aquela foto na parede serei, mas hoje estou morrendo para construir um futuro no qual eu seja reconhecido, tenho medo de morrer e não ter uma história, mas que história, se depois de alguns anos de minha partida nem aquela foto na parede serei? As lembranças serão esquecidas gradativamente, aos poucos irão se apagando da mente dos que ficaram, o tempo se encarregará de apagar.
Na realidade almejamos construir uma vida, uma história, e não
está errado, mas demasiadamente esse desejo, faz perdermos a mais bela história
que poderíamos construir em nossas vidas, que é viver o agora, amando, sendo
misericordioso, fraterno, buscando viver em harmonia com as diferenças, dando
atenção aos que amamos, aos que nos amam e aos que não nos amam, amando-os,
cercando-os de carinho, afeto e atenção, distribuindo sorrisos, essa é ao meu
ver a mais bela história a ser escrita e desvaida no tempo junto com a última
lembrança a ser tirada da parede, aquela foto.
Viver esses valores mencionados, não significa parar os nossos
sonhos e afazeres necessários do cotidiano, mas equilibrá-los, não perder tão
grandioso gesto para a correria em busca de ambições que provavelmente mesmo
que consigamos, dificilmente desfrutaremos de tais conquistas, talvez
partiremos antes de alcançá-las, ou chegaremos lá tão cansados, tão abatidos e
sem forças, e veremos que de nada valeu a pena, talvez chegaremos sem muita
saúde física e mental para desfrutá-los.
Penso que fora desta forma equilibrada de viver o presente, será
em vão qualquer esforço a mais em construir uma história a ficar marcada, pois
cada vez que tentamos isso somos direcionados a um futuro inexistente ainda,
mesmo que possa existir um dia, mas aqui no presente eu esqueço de amar e
valorizar as pessoas amadas e a beleza do presente, como se me lançasse por
cima do presente para construir um futuro, uma vida, uma história, enquanto um
futuro, uma vida e uma história se constrói a partir da vivência de um
presente.
Por esquecermos esses pequenos detalhes a vida nos surpreende,
leva rapidamente alguém que amamos, e lá vem o desespero e o remorso de não ter
aproveitado o tempo de vida do amado, ou da amada, o choro vem em forma de
desespero por saber que não foi tão presente com aquela pessoa pois corria
atrás de um futuro, de uma história, essa é apenas uma exemplificação.
O certo é que daqui alguns anos nem aquela foto na parede serei.
Por isso não me importo com história a ser deixada, muito menos legado algum,
só quero viver amando aqueles que eu poder alcançar nas minhas andanças por
onde eu passar, que gostem de mim ou não, quero a capacidade de ser afetuoso,
tratar com carinho seja quem for, sorrir sempre, mesmo que meu interior esteja
triste, pois um sorriso pode mudar o dia de alguém, uma demonstração de carinho
faz uma pessoa se sentir feliz, valorizada e amada.
Pouco me importa o que ficará depois que eu me for, o que me
importa é o agora, é o viver com intensidade apesar dos limites e desafios,
pois no “entardecer desta vida” depois de alguns anos nem aquela foto na parede
serei. E a dimensão da eternidade não posso falar, não a conheço ainda, espero
um dia me encontrar lá com todos os que ensinaram-me a amar, a doar-se, a ser
fraterno, a viver em harmonia com as diferenças, mesmo que eu não tenha sido
tão bom aluno, e não tenha aprendido como deveria.
Autoria do texto:Sebastião
Caldas
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