Essa foto retrata o texto em que descreve que o papel do líder popular em poucas palavras, é a pessoa que carrega consigo habilidades diversas relacionadas ao trato com outras pessoas.

Em poucas palavras, líder é a pessoa que carrega consigo habilidades diversas relacionadas ao trato com outras pessoas. Consegue aglutinar, juntar e despertar nas demais desejos e objetivos comuns. Dentre os vários modos de classificar as lideranças ensaiamos apenas uma breve distinção do líder popular frente aos demais.

Líder popular é quem estar à frente de seu grupo com as habilidades naturais ou adquiridas/desenvolvidas junto ao povão. Isto é, não recebeu nomeação e quase sempre nenhuma formação oficial. Sua escola são as experiências vividas, suas técnicas são testadas a cada vez que são aplicadas, comumente sem os meios das ciências acadêmicas. Essa liderança é espontânea, natural, criativa, alegre. Sem receio de ser mal compreendida, diz sua palavra de observação e crítica, de sugestões e agradecimentos, sem a rigidez da formalidade.

Nesse campo da liderança vários papéis são realizados. Não há contradições essenciais, mas há distinções nos campos e espaços de exercício e prática da liderança. Eis alguns exemplos: a figura de pai/mãe; quem coordena o grupo de danças; quem está à frente do time futebol; as pessoas que iniciam projetos sociais; o cabo eleitoral permanente; líder religioso; e, infelizmente o traficante (grande e pequeno); e muitos outros. Eis algumas observações sobre as distinções a serem respeitadas entre esses líderes.

A mãe pode ser do tipo liberal, impositiva, super protetora, em sua casa e família ela detém o comando e sente-se feliz por isso. Junto ao povo, no meio da comunidade, ela não pode agir sob o impulso maternal. A liderança de mãe não combina com a liderança comunitária, social, política, religiosa. Nesses espaços, o peso das decisões não pode ser aferido sob os critérios maternos. Aqui não conta mais ser filho nem mãe. As relações sociais são mais abrangentes.

Os líderes dos grupos específicos, como do time de futebol, das agremiações de danças, dos projetos sociais, têm grande valor e cada um, no seu campo de atuação tem voz e vez para determinar suas orientações e influências, mas ao tratar de assuntos mais abrangentes, por falta de visão a longo prazo, perde a chance de colaborar com toda a coletividade. Pois os interesses pessoais e o gosto pela continuidade no comando de seus grupos dificulta o despertar para compromissos sociais mais abrangentes.

Dentre esses líderes populares destacamos dois exemplos de demonstração na capacidade de formar com condições de chamar outros e fazer crescer cada vez mais seus quadros de possíveis seguidores: o traficante; o líder religioso. Quanto ao primeiro, todo seu empenho é para ganhar dinheiro vendendo seus entorpecentes. Não se trata de manipular as ideias ou deformar a capacidade de pensar, mas de destruir o cérebro e tornar mais pessoas dependentes dos narcóticos a fim de gerar lucros, sem se importar com os prejuízos sociais e humanos.

Em nossa realidade, os líderes religiosos gozam de muito sucesso. São capazes de animar as outras pessoas, mas também promovem um grande revés no sentido mais positivo da liderança. Notamos investimento maciço na formação de líderes religiosos, sobretudo, pentecostais protestantes e católicos. Revestidos de místicos, tendem a rejeitar os pensamentos e reflexões sobre a realidade, e, quando o fazem é partindo da mentalidade de quem os oprime. Não conseguem perceber a realidade a partir de seu lugar, mas com a visão distorcida de quem olha de cima pra baixo. Caem no risco de distorcer a Palavra de Deus e de negar a realidade humana de Jesus e sua opção preferencial.

Outro modo de empobrecer a importância dos líderes populares é confundir seu papel com a figura do influenciador digital, estereotipado como um ser em busca de ‘seguidores digitais’ e não de pessoas reais comprometidas com uma causa justa. Por vezes influenciadores conseguem mobilizar multidões para seus eventos, mas, na falta de sistematização e de clareza não iniciam processos. O evento finaliza quando termina a manifestação.

Faz falta aquela liderança que conhece e gosta de seu lugar no meio do povo, se sente povão, gosta de ser simples e falar suas ideias mesmo quando não são as mais elaboradas, sem receio de ser mal entendido e aceito. Mais que sentir-se feliz por reunir multidões, o líder popular sente-se realizado ao perceber os pequenos passos na direção das conquistas alcançadas lentamente para todos.

No reino das plantas e da água, quando uma espécie migra e invade o espaço das outras sem controle, coloca risco de descontrole entre as espécies. Essa pode ser nossa comparação. Se apenas o tipo ‘líder religioso’ ocupa o cenário e os espaços sociais, logo, falta quem pensa a vida a partir da realidade do dia-a-dia; quem reúne a comunidade, apresenta suas observações, organiza os instrumentos e meios para alcançar graus mais elevados sempre pensando no bem de todos.

É urgente despertar nas pessoas de nosso povo aquela vontade de colaborar com o bem do mundo. Seja participando do processo eleitoral, seja por meio dos grupos de arte e cultura, seja organizando grupos para reflexão ou iniciativas independente. Infelizmente quem age dessa forma é logo rotulado como ‘esquerdista’. No entanto vale ressaltar que não seguimos MARX e nenhum de seus alunos. Seguimos a um líder social/popular que de tão bom formou 12 grandes líderes populares que até hoje nos inspiram o sonho da construção permanente de seu Reino entre nós.

Como palavras finais, indicamos a necessidade de refletir sobre o valor de ser quem somos e do jeito que somos assumir nossa identidade e formar pessoas do povo para estar junto e à frente dos demais. O conhecimento adquirido na formação escolar acadêmica não pode jamais ser negada e desqualificado seu valor, mesmo assim, não nos cabe querer igualar nosso modo de pensar com o modo de ser, pensar e viver de quem sempre esteve dentro do comando das engrenagens sociais. Não somos donos do sistema. Não somos parte do comando. Somos a maioria, somos membros vivos e com condições de pensar, propor e construir alternativas muito além do campo político partidário.

Como Igreja Missionária, temos a graça de poder fomentar em nosso povo a capacidade de sonhar. De acreditar em si mesmo e de se empenhar na busca por tudo que corresponde a algo melhor. E nossa meta final é sempre o Reino inaugurado por Jesus. ‘Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, conseguem mudanças extraordinárias’, como diz o provérbio africano. Para isso se faz valioso observar as exigências a todo tipo de boa liderança:

  • Saber onde se quer chegar.
  • Confiar no seu povo.
  • Organizar os serviços e distribuir funções.
  • Motivar, inspirar, insistir, comunicar...
  • Nunca iniciar pela crítica. Começar pelo elogio, e ampliar o assunto fazendo sugestões.
  • . Quando ver falha, agradecer por conseguir perceber e mobilizar as soluções.
  • Aceitar que desconfiem de sua pessoa e comprovar a honestidade do grupo todo pela transparências nas ideias, nos gastos e nos ganhos e nos avanços.
  • Saber começar, se esforçar para continuar e não ter medo de deixar o posto de liderança. Líder que não forma líder, destrói a si mesmo, ao seu grupo e impede a continuidade do projeto.
  • Acreditar em si mesmo, confiar no seu grupo e CRER no eterno a quem todos servimos.

 

Autoria do texto: Pe. Gordiano, Anori, 28 de outubro de 2023