Desceu do avião, sentiu o calor forte no rosto. Do alto viu uma cidade bem maior que a da sua infância. Espalhados entre uma ladeira e outra, e nas beiras dos igarapés, os casebres revelavam a pobreza de seus moradores.
Passou
a viagem toda pensando na história de sua família com a cidade. Seu avô foi um
velho cacique da política local, um boto com carisma mineiro, comia quieto.
Pegava as caboclinhas, só novinhas, até na frente da vovó que fazia vista
grossa para seus casos. Já meu pai foi um boto matador, devorador, bom nas
contas e bom nos rastros da mulherada. A quem puxei? Pensou com seus botões.
Foi recebido por uma comissão da administração local. Paparicado pelo grupo, foi levado ao hotel. Depois de almoçar uma caldeirada de tambaqui, foi direto para o cochilo. Ninguém é de ferro.
Levantou depois das três, ainda com o gosto do tambaqui na boca. Repassou o plano. Seria cúmplice, laranja num negócio, forneceria a "bom preço" ao município, o necessário e o não necessário, conforme os pedidos e os ajustes com alguém da mais alta confiança do chefe.
Tudo
estava pronto. Ninguém desconfiaria o que tinha por trás das vendas. Entrou no
espaço e gostou do que viu. Faltava os funcionários, teria que ser gente que inspirasse
e conquistasse sua confiança. As entrevistas seriam na manhã seguinte.
Na manhã seguinte seguiu para as entrevistas. Compareceram muitas meninas. Não precisava muitos conhecimentos e nem formação superior. Escolheu duas delas, seguindo as aparências. Na tarde as entrevistas foram mais íntimas.
No escritório em Manaus. O WhatsApp mostrou a imagem frontal da fruta que o boto mais gosta. Meu faro de filho e neto de boto não falha. E quando os desejos apertavam, se encontravam nas suítes dos caros motéis de Manaus. Tudo pago com o dinheiro do povo daquela cidade.
Qualquer
semelhança com a realidade é mera coincidência!
Autoria do texto: Francisco José
0 Comentários